sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Uma discussão acerca do trabalho


Estudantes:Larissa Lima e Tamira Mercês 
Psicologia Organizacional e do Trabalho - 5º semestre
                                                      
Introdução

O trabalho é considerado uma atividade ligada à condição e dignidade humanas. Esta afirmação se origina do fato de que é através do ato de trabalhar que as pessoas têm a possibilidade de suprir suas necessidades básicas e buscar um sentido para sua vida.
Com base na questão evidenciada acima, algumas pessoas relatam que o trabalho é uma fonte de prazer, enquanto outras afirmam o contrário. Nesse sentido, o presente trabalho busca a demonstração de que trabalhar representa uma oportunidade a partir da qual o ser humano pode desenvolver-se, praticando uma atividade útil para si e para outros indivíduos. No entanto, os autores e suas teorias também mostram que o sentido pessoal adquirido por meio do trabalho está relacionado a distintas formas de sofrimento e sua superação.
O entendimento acerca de questões mais complexas do trabalho exige o conhecimento dos componentes elementares que auxiliam na construção de uma organização do trabalho. Com isso, também serão abordadas algumas concepções defendidas por teorias administrativas.
No interior das discussões propostas, ainda observa-se a necessidade de abordar alguns pontos que, até o momento, não são vistos como intrinsecamente ligados ao trabalho. Nessa ocasião, serão apresentadas as perspectivas de atuação do psicólogo organizacional. Mediante as reflexões realizadas, a finalização deste trabalho se dará com uma avaliação sobre a importância de realizar aproximações a eventos organizacionais.
O trabalho apresentado será pautado nas aulas da disciplina de Psicologia Organizacional e do Trabalho do curso de Psicologia do 5° semestre da Universidade do Estado da Bahia- UNEB. Inicialmente serão apresentadas as discussões em torno dos conteúdos mediados em sala e discutidas pelo professor e pelos alunos e também pautando nas dinâmicas de grupos que foram realizadas em sala que significaram bastante para o processo de reflexão e de construção das relações em grupo.

Organizações e trabalho: considerações iniciais

As idéias e argumentos referentes ao trabalho, primeiramente, devem ser apresentadas com um enfoque histórico, passando pelas suas principais características. A história, mesmo que apresentada de forma breve facilita outras compreensões, e as características, por sua vez, permitem a identificação.
Em “O mundo do trabalho”, Borges e Yamamoto (2004) indicam que até dois séculos atrás, o trabalho não era considerado como uma das atividades essenciais a ser realizada diariamente. Porém, este quadro se modifica com o surgimento do capitalismo.
A partir do capitalismo, o trabalho ganha novas formas de ser pensado e conduzido, sendo intensamente influenciado pelas idéias de Taylor, Fayol e Ford. Taylorismo e Fordismo são concepções semelhantes. Assim, o segundo aparece como um reforço às proposições de parcelamento, exigência de eficiência, monotonia e pobreza de conteúdo, que são princípios defendidos pelo Taylorismo.
Em seguida, os autores citados, registram a existência da noção de sociedade do bem-estar, comentando que esta abordagem não teve uma ampla difusão. Apesar de suceder a fase mais acentuada da administração científica, a sociedade do bem-estar funciona apoiada no seguinte tripé: organização do trabalho sustentada no taylorismo-fordismo, regime de acumulação do capital sob uma lógica macroeconômica e modo de regulação de conflitos com larga institucionalização.
Com relação aos tempos mais recentes, indica-se que o modelo taylorista-fordista se esgotou,sendo substituído pela adoção de tecnologias, inovadores meios de comunicação e surgimento de novos estilos de gestão.
Contudo, neste período, em alguns casos ainda é possível retomar a visão proposta pela administração científica e, dessa forma, pode-se falar que apesar de ter ocorrido uma redução do seu uso como modelo de gestão, algumas organizações nos direciona a citar a metáfora da máquina, conforme aponta Gareth (1996).
Trabalhando de acordo com os princípios derivados do taylorismo-fordismo, as pessoas são vistas como parecidas às máquinas que operam. Comumente suas ações são pré-determinadas e as condições e modelo administrativo admite rigorosamente apenas a precisão das funções que devem ser executadas.
Provavelmente, é deste cenário que mais resultam as psicopatologias e as conhecidas doenças psicossomáticas que são atribuídas aos sinais de que é preciso rever, comunicar e requerer uma reelaboração de determinadas situações que proporcionam desconforto, chegando ao ponto de não ser mais suportável.
Para exemplificar a informação fornecida acima, alguns dados e as próprias falas sobre práticas em organizações relatam que as atividades de produção, realmente, abrangem o desencadeamento de transtornos mentais, estresse e os frequentes problemas que atingem o corpo, a exemplo das LER e Dort.
Considerando o declínio do modelo taylorista-fordista e dando início à caracterização de uma organização do trabalho, a Teoria das Relações Humanas destaca que o nível de produção no trabalho se relaciona com a socialização vivenciada pelos funcionários. Ou seja, os espaços organizacionais são marcados pela formação de grupos ou pares.
A Teoria Comportamental da Administração ressalta a importância do processo decisorial distribuído em níveis e o papel da cooperação como aspecto fundamental para o surgimento da organização. Essa mesma teoria apresenta o termo equilíbrio organizacional para se referir à dinâmica de recebimento de incentivos por parte dos trabalhadores, enquanto os mesmos oferecem contribuições à organização.
Outro fator bastante importante para o estabelecimento e manutenção de uma estrutura organizacional é a existência de um líder. Na atualidade, os líderes,assim como os trabalhadores em geral,precisam apresentar características compatíveis com os avanços impulsionados pelas novas tecnologias.
As organizações do trabalho também são caracterizadas por cultura organizacional e clima organizacional. A primeira expressão está associada às práticas e costumes exercidos no local em que se trabalha. Já o clima organizacional relaciona-se com os níveis de satisfação ou não, diante das experiências vivenciadas.
Após este interessante percurso, torna-se possível, então, tratar de questões mais profundas sobre o trabalho.

Trabalho e práticas

            Ao iniciar as discussões acerca das práticas desenvolvidas no contexto da disciplina Psicologia Organizacional e do Trabalho pode-se dizer que a chegada a uma organização demanda que o indivíduo informe alguns pontos da sua vida, interesses e disponibilidade de participação em relação aos objetivos e metas que determinam o funcionamento do local. A organização Psicologia UNEB Primeira Turma se insere neste quadro. Frequentemente, surgem os questionamentos sobre a opção pelo curso e ainda sobre posicionamentos diversos no que se refere a mudanças, por exemplo.
As relações entre vida pessoal e trabalho são muito mais estreitas do que podem parecer. Isso se deve ao fato de que desde o nascimento, a pessoa recebe influências do meio para o seu desenvolvimento psicossocial. Nesse sentido, as relações, vínculos e história de cada estudante, de cada um que se propôs a ingressar no curso de Psicologia se relacionam com as suas expectativas quanto às possibilidades visualizadas nessa área científica e profissional.
Se a vida pessoal produz efeitos na organização do trabalho, o contrário também acontece. Aquilo que é vivenciado dentro e fora do ambiente organizacional se influenciam mutuamente. Decorrente desse aspecto as próprias dinâmicas permitiram a percepção de que em muitas ocasiões há uma mescla de fatores que, de algum modo, preferencialmente, pertencem à esfera privada ou pública. A partir daí, pode-se afirmar que não há uma cisão entre a atuação como estudante do curso e o exercício de outros papéis. As experiências vivenciadas fora da sala de aula foram levadas a este espaço e o contrário, provavelmente, também aconteceu.
 Tomando como referência as discussões e, principalmente, as práticas envolvendo dinâmicas tornou-se bastante nítida e reafirmou-se,então, a questão de que o trabalho não é essencialmente uma forma de prazer. As dificuldades, oriundas de diversas fontes, em muitos casos se tornam o ponto de partida para a obtenção de prazer no trabalho.
O nome trabalho remete-nos a uma condição desagradável, exploratória e que sucede vários problemas ao individuo. Essa visão do trabalho está estereotipada na sociedade devido aos primórdios da construção social, onde desde a época dos antigos egípcios era usado o trabalho escravo, o qual exigia a força de trabalho de forma desumana e exploratória. O dicionário também vem reforçar essa estigmatização do que remete a palavra trabalho, trazendo que a mesma deriva do latim “tripalium”, que se refere a um instrumento de tortura para punições dos indivíduos. Devido a essa concepção de trabalho, foi globalizado um senso comum acerca do mesmo, intitulando-o como sendo uma prática exploratória e que vem sendo executada devido às condições de sobrevivência humana.   Contudo, isto é apenas um senso comum. Na verdade existem condições de trabalho que possibilitam ao individuo um prazer em estar executando aquele exercício. Desta forma surge a necessidade de profissionais capacitados para estar analisando as condições de trabalho e desta forma estar favorecendo um ambiente mais propício e agradável para ser explorado.
A psicologia organizacional e do trabalho com base nas análises e reflexões feitas nos ambientes de trabalho, chegou à conclusão de que o que movimenta e desenvolve o trabalho e as organizações são os trabalhadores. Mas para que haja uma fluidez e boa relação no ambiente em que se trabalha é necessário voltar o olhar para a forma de relacionamento e afetividade que está sendo desenvolvida na empresa, a cultura de cada individuo, o clima organizacional, a subjetividade de cada trabalhador que forma a organização. A partir dessa preocupação e desse novo olhar da Psicologia Organizacional essa estigmatização social de trabalho passa a se desconstruir e o trabalhador começa a sentir e ver que na verdade o trabalho não é apenas um meio de sobrevivência e exploração, mas sim uma “família” onde ele convive e passa a maior parte de sua vida dedicando-se aquela equipe e não só ao trabalho. Ele passa a observar que aquele ambiente é um espaço de troca de experiências e de construção junto com os outros indivíduos.
As intervenções realizadas nas organizações são de extrema importância para o desenvolvimento da empresa e os resultados já são visíveis em pesquisa, que apontam o trabalho como um espaço de motivação para o trabalhador, isso devido à preocupação e o novo olhar advindo da Psicologia organizacional.
No caso da organização Psicologia Primeira Turma a consideração de um sistema participativo, consultivo exerceu uma influência positiva para a condução das atividades tanto no que se refere aos objetivos que foram propostos para a disciplina quanto em relação aos processos que se fizeram necessários para alcançar tais objetivos.
Ligada à busca constante de prazer no trabalho e à própria história de cada membro da Organização Psicologia UNEB Primeira Turma foi verificada a tendência que os sujeitos apresentam para a formação de grupos. Os relacionamentos mais próximos e mais distantes são construídos através de identificação e dos pontos positivos que são visualizados no outro. A teoria psicanalítica, por exemplo, destaca a idéia das relações de transferência.
Cada ser humano é único. Mas, partindo da idéia da formação de grupos, as reuniões de indivíduos pressupõem características semelhantes, modos compatíveis e, em algumas ocasiões, atitudes que se aproximam de certa complementaridade.
O desenvolvimento das atividades do dia-a-dia e as práticas propriamente ditas, com destaque para a última que foi realizada, conduzem à reflexão de que os grupos, simultaneamente se distanciam e se aproximam, pois estão direcionados a objetivos comuns, sendo que, na verdade, formam um grande grupo. Todos estes aspectos são interessantes para o funcionamento da organização, na medida em que se encontram de forma harmonizada.
No interior dos pequenos grupos também é possível identificar um modo de funcionamento característico e ainda o desempenho de papéis por cada componente. Em alguns momentos, as circunstâncias demandam que os estudantes assumam papéis diferenciados, mas frequentemente, registram-se as seguintes atuações, conforme sugere Pichon Rivière: líder de mudança, porta-voz, sintetizador, coordenador, observador.
Isto é, as pessoas se comunicam, algumas exibem a habilidade de coordenar as falas, outras sintetizam e fazem a exposição quando necessário. Uma parte das pessoas se dedica a escutar, oferecendo mais tranquilidade àquele que está tendo a oportunidade de se expressar.
Após identificar e retratar aspectos mais profundos acerca da inserção e manutenção na turma Psicologia UNEB, tornou-se possível chegar a debates que permitiram o conhecimento e abordagem de pontos que eram vistos como fatores que não ofereciam benefícios aos modos de execução das tarefas e convivência de todo o grupo. Com isso, os membros da organização – os estudantes – expuseram seu desconforto em relação a determinadas situações e atitudes do outro, mas também evidenciaram problemas próprios que acreditavam e poderiam estar interferindo nas aulas.
As ocasiões nas quais os debates foram propostos se apresentaram como importantes, na medida em que houve esforços para avaliar as causas e possíveis soluções para as questões explicitadas.
Conforme já foi comentado, a finalização da disciplina Psicologia Organizacional e do Trabalho e a última dinâmica, mais especificamente, buscaram a demonstração das qualidades da turma, o papel que exercem diariamente e de que forma suas contribuições podem ser percebidas.
Diante dos movimentos e atividades que foram realizados desde o início da disciplina supracitada até a conclusão da mesma, alguns pensamentos se originaram referindo-se ao fato de que além de reelaborar e ressignificar os problemas e circunstâncias desagradáveis é necessário também valorizar os pontos positivos já alcançados que direcionam ao sucesso da organização.

O psicólogo nas organizações

As mudanças de trabalho que estão sendo realizadas na sociedade contemporânea fazem necessária uma reflexão acerca da atuação do psicólogo nas organizações, pois como visto anteriormente as condições de trabalho estão em processos de mudanças e com isso o profissional deve estar sempre apto a desenvolver novas estratégias para exercer uma boa atuação no contexto onde está inserido. Com isso, o papel do psicólogo em relação aos ambientes organizacionais não pode se restringir à técnica, se estendendo também aos níveis e estados de qualidade de vida e saúde mental dos trabalhadores.
Então, de que modo o psicólogo atua nas organizações? O profissional auxilia nas demandas das organizações e dos trabalhadores no que se refere às relações entre indivíduo e trabalho, pois quando o ambiente está em conflito tudo se torna desagradável, o individuo sente-se desmotivado para realizar suas atividades e acaba adoecendo. Por isso a importância da Psicologia nas organizações, pois a mesma irá analisar para fazer as intervenções psicológicas que tem como objetivo analisar e compreender a subjetividade humana nos processos grupais na organização. Pode-se dizer que o trabalho do psicólogo organizacional consiste em auxiliar as elaborações demandadas, visando um bom diálogo entre indivíduo e trabalho. Essa intervenção psicológica tem como ponto de partida a compreensão da identidade humana, processos grupais e mecanismos de aprendizagem nas dimensões individual e coletiva. Dessa forma, o novo estilo de gestão com relação aos contextos organizacionais vem exercendo influências sobre o papel do profissional de Psicologia nessas circunstâncias de atuação.
Assim, os maiores e melhores esforços que puderem ser feitos para um bom processo de formação e aprofundamento acerca da Psicologia Organizacional e do Trabalho são extremamente válidos.
Ao chegar a essa reflexão, os conteúdos teóricos e algumas analogias que puderam ser vivenciadas nas dinâmicas, aulas práticas da referida disciplina se constituem como instrumentos e possíveis mediadores de atuação profissional.

Aspectos necessários à organização

Nesse momento da discussão serão apontados mais alguns fatores que, sem dúvidas, fazem parte do funcionamento das organizações, mas que em muitos casos, a importância que lhes é atribuída ainda não é amplamente reconhecida e abordada no seu relacionamento com esses ambientes de trabalho.
Conforme já foi evidenciado anteriormente, a existência de uma organização pressupõe determinados elementos. Além de considerar os aspectos básicos da constituição de um espaço organizacional, torna-se necessário também levar em consideração outros elementos que contribuem para a dinâmica estabelecida no desenvolvimento das atividades de trabalho.
De maneira geral, a condução do trabalho envolve manifestações cotidianas de emoções e estados motivacionais que, frequentemente, podem ser verificadas através de comportamentos verbais e da linguagem corporal. Essa afirmação, mais uma vez, relaciona-se com o fato de que as pessoas possuem relações que se entrelaçam no que se refere aos ambientes interno e externo da organização.
Ao avaliar a questão das emoções em empresas, é possível constatar registros nos quais se observam que razão e emoção não são vistas como antagônicas. A reflexão acerca de experiências vivenciadas em diferentes organizações permite chegar à conclusão de que os processos de trabalho são predominantemente apontados como resultados da razão, sendo que as emoções exercem grandes influências em alguns desses processos, como por exemplo, a escolha das respostas e soluções mais apropriadas aos conflitos.
A partir disso, pode-se pensar que sem a presença das emoções, muitos acontecimentos se apresentariam de um modo muito diferente, inclusive sem os benefícios ou pontos positivos que lhe caracterizam. Aqui, vale ressaltar que as emoções de um trabalhador ou do estudante no contexto da sala de aula podem e geralmente fazem a mediação das suas relações interpessoais e facilitam suas opiniões e comportamentos no local em que trabalha, e no caso do estudante essa mediação acontece na faculdade, por exemplo.
Outro aspecto que é bastante relevante para uma estrutura organizacional é a motivação dos membros que a compõe. A inserção num ambiente de trabalho se baseia em algumas expectativas que necessitam de alguns motivos para serem alcançadas ou até mesmo superadas. O fenômeno da motivação requer uma ampla interação entre o modelo de gestão e os funcionários da organização. Os planejamentos e eventos ocorridos diariamente numa organização devem estar direcionados à possibilidade de surgimento da motivação, sendo esta compreendida como um processo psicológico básico que impulsiona a realização de ações dirigidas a objetivos. Geralmente, quando este processo é vivenciado,os resultados e metas programadas são facilmente visualizados.
Dejours (1994) ainda propõe a inteligência prática como uma das dimensões desconhecidas do trabalho, mas que assim como as outras, é muito utilizada na condução das atividades pelos trabalhadores. Essa dimensão do trabalho está associada e representa a idéia do trabalho real que, na maioria das vezes, não constitui uma total correspondência ao trabalho prescrito.
Sob a concepção da inteligência prática, dirigentes e dirigidos podem considerar que a sabedoria e as habilidades adquiridas através de diferentes experiências também fornecem importantes contribuições para o desempenho das funções no trabalho. Assim, observa-se uma maior flexibilidade no desempenho das funções.
Ligado a estes aspectos que fazem parte da dinâmica do trabalho, ainda é possível citar a linguagem corporal, que pode ser observada através de gestos e expressões faciais. Por meio do aspecto corporal, o individuo reafirma suas falas ou até mesmo expressa aquilo que não foi dito. Com isso, existem várias maneiras pelas quais a linguagem corporal comunica as emoções, os estados motivacionais, o desenvolvimento da inteligência prática, as insatisfações e os níveis de aproximação entre as pessoas e grupos. A convivência nos grupos de trabalho permite a identificação do estado e as opiniões de um determinado indivíduo através do que o seu corpo fala, mesmo quando ele prefere não se expressar verbalmente.
Diante do fato de que as organizações e suas atividades são influenciadas pelas emoções, afeto, motivação, inteligência prática e linguagem corporal, tais fatores precisam ser considerados e valorizados. Além disso, torna-se importante dizer que os bons resultados de um contexto organizacional não apenas se referem a um dos fatores, e sim à combinação deles.
Com relação às dinâmicas realizadas em sala de aula, os fatores evidenciados acima puderam ser identificados em diferentes momentos. Emoções e afetos, como já foi dito são importantes mediadores para uma boa parte dos acontecimentos do espaço. A motivação e inteligência prática exerceram e continuarão exercendo o papel de ajudar na atribuição de significados e melhores formas de manter as relações que ocorrem no e pelo trabalho.
Com isso, é possível sugerir que sem as emoções, as queixas sobre desconforto ou até mesmo os relatos sobre a satisfação teriam acesso dificultado. Seguindo este pensamento também pode-se dizer que a não consideração,não utilização da inteligência prática dificultaria o desenvolvimento de determinadas atividades propostas.Ainda poderiam ser encontradas dificuldades,caso a motivação não estivesse presente na maior parte do tempo.

Conclusão

A disciplina de Psicologia organizacional e do trabalho nos permitiu a realização de muitas reflexões, principalmente no que se refere às questões de relacionamento de grupo, onde foi possível refletir e se colocar em situações vivenciadas pelo outro.  Desta forma, nos colocamos no lugar de cada individuo e consequentemente foram se moldando os pré-conceitos que anteriormente existiam acerca dos conflitos existentes na turma. A discussão dos textos entre alunos e professor foi inquiridora e também foi possível entender o porquê se formava tais situações e a forma como o Psicólogo atuaria nessas questões, fazendo intervenções.  
Todas as reflexões feitas durante o processo de aprendizagem e aproximação com as idéias propostas pela Psicologia Organizacional permitem dizer que os conhecimentos obtidos poderão servir como base para melhores formas de atuação em diversos tipos de organização.  As aplicações sobre o que foi aprendido, provavelmente, se voltarão para as formas de relacionamento estabelecidas. Ao estar diante das situações organizacionais, a utilização dos conhecimentos teóricos e práticos que foram adquiridos sugerem o reconhecimento das condições de trabalho, debate sobre as mesmas e transformações, se forem necessárias.

Referências
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CHIAVENATO, Idalberto. Teoria das Relações Humanas (cap.5). In____Introdução à Teoria Geral da Administração,p.131-154.São Paulo:Makron Books,1997.
______. Teoria Comportamental da Administração (cap.13). In____Introdução à Teoria Geral da Administração,p.529-590.São Paulo:Makron Books,1997.
______.Teoria do Desenvolvimento Organizacional(cap.16). In____Introdução à Teoria Geral da Administração,p.177- 229.São Paulo:Makron Books,1997.
DEJOURS, Christophe. Inteligência prática e sabedoria prática. In: LANCMAN, Selma; SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.
DEJOURS, Christophe. Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações. In: CHANLAT, Jean-François. O indivíduo nas organizações: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1993.
DEJOURS, Christophe. Trabalho e saúde mental (cap.3). In____Psicodinâmica do trabalho,p.45-65.São Paulo:Atlas,1994.
FEYEREISEN, Pierre; LANNOY, Jacques Dominique de.Linguagem do corpo,gestualidade e comunicação.In:CHANLAT,Jean-François.O indivíduo nas organizações:dimensões esquecidas.São Paulo:Atlas,1993.
GloboNews – Mundo S/A Episódio 1 e Episódio 2.In:You tube.Disponíveis em http://www.youtube.com/watch?v=jKdFxQPahw8 e http://www.youtube.com/watch?v=9JtA8ncpSac.Acessados em 2013.
GONDIM, Sônia Maria Guedes; SILVA, Narbal. Motivação no trabalho. In: BASTOS A. Virgilio Bittencourt; BORGES-ANDRADE, Jairo Eduardo; ZANELLI, J. Carlos. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil, p.145-175. Porto Alegre: Artmed Editora, 2004.
GONDIM, Sônia Maria Guedes; SIQUEIRA, Mirlene Maria Matias. Emoções e Afetos no Trabalho. In: BASTOS A. Virgilio Bittencourt; BORGES-ANDRADE, Jairo Eduardo; ZANELLI, J. Carlos. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil, p.207-235. Porto Alegre: Artmed Editora, 2004.
LASSALVIA, Digelza Flávia Câmara. Grupo operativo: uma proposta de Pichon Rivière. In: Psicopedagogia Clínica e Institucional – PIC. Disponível em http://supervisaopsicopedagogica.com.br/?p=76. Acesso em 04/06/2013.
MORGAN, Gareth. A mecanização assume o comando (cap.2). In____Imagens da organização, p.21-41.São Paulo:Atlas,1996.



terça-feira, 9 de julho de 2013

Síntese do texto “As relações domésticas: entre amor e dominação”

A psicodinâmica do trabalho e, sobretudo, as ideias apresentadas por Christophe Dejours oferecem novas e mais adequadas visões acerca de questões que estão relacionadas ao trabalho. Um dos argumentos defendido pelo referido autor se associa à construção da identidade dos sujeitos estando em interação com diferentes situações, inclusive as relações de trabalho.

A abordagem sobre a identidade como uma dimensão intimamente ligada à questão do trabalho é explicada por Dejours (2004) a partir dos acontecimentos que se dão dentro e fora do ambiente de trabalho. Mais especificamente, diz-se que abordagem citada pode ser mais facilmente avaliada através do trabalho de reprodução - trabalho doméstico - e do amor, na medida em que estes podem ser observados na esfera privada.

Antes de apresentar os fatores que, geralmente, estão associados ao trabalho de reprodução, tornam-se necessárias as conceituações e considerações acerca da identidade e do amor. Com isso, a identidade é vista como um sentimento de unidade da personalidade e que está em constante movimento durante o curso de vida do sujeito. O amor, por sua vez, é um sentimento ao qual se faz referência mediante a reprodução das relações de dominação no espaço privado.

Uma idéia mais profunda acerca da relação existente entre identidade, trabalho de reprodução e amor, surge exatamente de questões associadas ao último termo citado. Conforme aponta Dejours, o amor é constituído pelos componentes identitário, sexual e vínculo. O elemento identitário se refere à possibilidade das pessoas se reconhecerem a partir do outro através do sentimento discutido.O amor também implica uma economia erótica,mas também abrange o vínculo.

O vínculo, que é intensamente observado na constituição das relações amorosas, é utilizado pelos seres humanos na mobilização dos recursos que lhes são disponíveis, buscando ajustá-los de acordo com as suas expectativas. No entanto, o vínculo também é apontado como um possível fator desencadeante da alienação entre os parceiros. Assim, esse importante elemento participa não apenas da estrutura das relações de amor, mas das próprias relações ou realizações de tarefa que envolvem o contexto privado.

No trabalho de reprodução – entendido aqui como o trabalho doméstico – o vínculo pode influenciar o registro das relações de dominação e submissão num ambiente familiar. As tarefas domésticas e todo trabalho fica sob a responsabilidade daquele que se submete, e sob o ponto de vista vincular aquele que domina e o que se submete assumem muito bem seus papéis.

O termo trabalho de reprodução representa as multideterminações do quadro de trabalho que é desenvolvido em espaços domésticos. Pode-se falar, então, que as relações de dominação/submissão são reflexos da negação ou reconhecimento da diferença anatômica entre os sexos, do trabalho produtivo e do próprio trabalho reprodutivo. Nesses três momentos, comumente, homens e mulheres apresentam tendências distintas com relação a aceitar ou não determinada realidade. É importante ressaltar que esses três processos estão situados em épocas diferentes da vida de uma pessoa. O primeiro encontra-se ligado ao desenvolvimento infantil, enquanto os últimos podem ser vistos na vida adulta, sendo mais recentes.

De acordo com os aspectos apresentados acima, o sujeito que percebe e reconhece os elementos da realidade dada assume o papel da submissão e aquele que nega domina. A justificativa para essa configuração, provavelmente, relaciona-se com o fato de que o reconhecimento dá as bases para saber lidar com um possível conflito, enquanto a negação não o permite.

Dessa maneira, é possível falar que o trabalho produtivo, ou seja, aquele que é desenvolvido num espaço organizacional e o desenvolvimento infantil exercem influências nas relações familiares, abrangendo a própria noção de trabalho que se estabelece nessa rede social.

Referência
DEJOURS, Christophe. As relações domésticas: entre amor e dominação. In: LANCMAN, Selma; SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.

Tamira Mercês


segunda-feira, 8 de julho de 2013

Síntese do texto “Entre sofrimento e reapropriação: o sentido do trabalho”

O trabalho, sem dúvidas, está associado a possibilidades de mudanças variadas. Ao se referir a esta questão, as transformações pelas quais passa uma organização, frequentemente, são relacionadas à evolução da tecnologia. As mudanças que surgem junto com as inovações tecnológicas apresentam pontos positivos para a saúde do trabalhador, mas também é preciso estar consciente de que novas dificuldades podem surgir.

As mudanças no trabalho consideradas como resultado das invenções tecnológicas oferecem alguns benefícios às estruturas organizacionais e relações de produção, contribuindo para o bem-estar e saúde daqueles que trabalham. Nesse momento, é importante dizer que este componente dos processos de trabalho se torna mais um mecanismo sobre o qual cada trabalhador exerce suas funções com base no sofrimento criativo. Esta idéia é proposta por Dejours (2004),quando ele afirma que não há organização do trabalho sem sofrimento,mas sim aquela que permite sua superação.

A partir da idéia proposta acima, é fácil perceber que diante dos avanços tecnológicos, a organização passa por adaptações e, ao mesmo tempo, conserva alguns aspectos essenciais. Dejours (2004) assinala que as possíveis mudanças numa organização têm como ponto de partida as relações intersubjetivas e a existência de um espaço de entendimento.

Nessa discussão pode-se falar também que o estabelecimento de mudanças influencia e é influenciado pelos atos de falar e ouvir em diferentes ocasiões, que são especialmente planejadas pelos membros da organização. Isto é, os funcionários sentem-se estimulados pelas novidades e, consequentemente, é possível visualizar que há motivação para oferecer contribuições ao local de trabalho.

Pensar em mudanças,segundo Dejours,requer reformular as próprias concepções que são atribuídas aos assalariados. Esse é um aspecto bastante relevante, pois em alguns casos os trabalhadores são vistos como indiferentes em relação às mudanças. A solução para este problema envolve o reconhecimento das causas do desengajamento do profissional e também o fornecimento da oportunidade de verificação das retribuições que podem ser alcançadas.

Um fator contrário à indiferença - a denúncia - também pode gerar uma resistência às iniciativas de transformação. Uma alternativa para esta situação é considerar e demonstrar às organizações sindicais que trabalhar significa viver uma experimentação social. Antes de ser contrário às inovações, é preciso conhecer as condições propostas.

O desengajamento originado tanto da renúncia quanto da indiferença não poderia ser resolvido a partir da redução do tempo que é dedicado ao trabalho. Isso se deve ao fato de que relações internas e externas da organização estão em constante ligação.

Ao aproximar-se de uma breve conclusão torna-se importante ressaltar que a esfera do trabalho necessita de pessoas que valorizem a cooperação e estejam dispostas a desenvolver as atividades da organização. Nessa ocasião, destaca-se a complementaridade entre a vida pessoal do sujeito e as experiências vivenciadas no trabalho. O trabalho desempenhado por uma pessoa está associado às suas expectativas, sendo que o ato de trabalhar deve ser entendido como uma atividade útil e com objetivo que, muitas vezes, não engloba a tarefa prescrita, e encontra-se sob o olhar de uma coordenação.

Dessa maneira, sugere-se que o trabalho e o seu conceito devem ser objeto de reflexões, enquanto as mudanças relacionadas a ele podem ser vistas de acordo com as características básicas que o compõe.

Referência
DEJOURS, Christophe. Entre sofrimento e reapropriação: o sentido do trabalho. In: LANCMAN, Selma; SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.

Tamira Mercês


domingo, 7 de julho de 2013

Síntese do texto Inteligência prática e sabedoria prática

As discussões acerca do trabalho abrangem a identificação, mas não o conhecimento profundo das dimensões que caracterizam essa atividade humana. No exercício das funções o trabalho real, frequentemente não corresponde ao trabalho prescrito e, a partir daí, é possível perceber e avaliar a existência e utilização da inteligência prática que, por sua vez, é uma das dimensões do trabalho.

Em geral, as formas utilizadas pelos trabalhadores para a condução das suas atividades nos espaços de trabalho são mal compreendidas. Nesse sentido, o fato dos trabalhadores não seguirem as indicações do trabalho prescrito são explicadas através de atribuições negativas em relação a esses indivíduos. Contudo, algumas pesquisas demonstram e, consequentemente, permitem afirmar que o trabalho real possui características essenciais para a manutenção das condições de trabalho. Assim, surge a necessidade de abordar a inteligência, sabedoria prática no trabalho.

As atividades de desempenho nos ambientes de trabalho em relacionamento com a inteligência prática, primeiramente, são visualizadas com base no aspecto corporal. Por meio das sensações e percepções, o corpo atua como mediador das diferentes situações vivenciadas no trabalho. Devido a esse fato, em alguns casos, a dimensão corpórea da inteligência prática se apresenta como um fator fundamental para a solução de determinados problemas e, em outras circunstâncias funciona como ponto de partida para a utilização do trabalho prescrito.

A avaliação sobre a inteligência prática também sugere considerar a presença e necessidade da astucia nos procedimentos que visam alcançar os objetivos propostos pela organização do trabalho. Com o auxílio do corpo e da astucia, a inteligência prática, ainda pode ser reconhecida como aquela que é capaz de estar presente em trabalhos teóricos e manuais, contribuindo com as demonstrações de criatividade observadas, por exemplo, nas empresas. Finalmente, destaca-se que a inteligência astuciosa encontra-se em ampla difusão entre as pessoas.

Dejours (2004) assinala que as manifestações da inteligência prática se originam dos contextos sincrônico de diacrônico, nos quais o sujeito está situado. O contexto sincrônico se refere à organização e relações sociais no trabalho presente, enquanto o contexto diacrônico trata da historia singular do trabalhador em interação com o trabalho presente.

Ao considerar a origem da inteligência prática em relação à história singular do sujeito, a psicanálise propõe que é a passagem pela epistemofilia e jogos infantis que fornecem as bases para o desencadeamento da inteligência que está sendo discutida aqui. De acordo com essa afirmação, há uma ligação entre inteligência prática e o sofrimento que surgiu na infância a partir da angústia dos próprios pais do sujeito que, no presente, participa do que é denominado como teatro do trabalho.

Diante das questões suscitadas acima, pode-se dizer que a inteligência prática torna-se necessária em razão da impossibilidade dos trabalhadores seguirem as regras do trabalho prescrito e também porque o espaço do trabalho constitui-se como uma oportunidade de cada sujeito visualizar um sentido na atividade que realiza. No entanto, a inteligência astuciosa pode não se manifestar pelo fato da pessoa que trabalha considerar os objetivos fixados pela organização insatisfatórios e ainda perceber que não existem contribuições para a sua situação subjetiva.

Frequentemente, a administração envolvida nos processos organizacionais se recusa a reconhecer o relativo distanciamento entre aquilo que é prescrito e real na realização das atividades, justificando ser esta uma forma de buscar proteção e segurança para toda a estrutura da organização.

Dessa forma, é possível falar que a negação da inteligência prática, em muitos ambientes, pode estar deixando várias questões e atributos relevantes implícitos. Conforme já foi apontado, esse tipo de inteligência é uma dimensão do trabalho e, neste caso, é preciso dedicar atenção a ela.

Referencia
DEJOURS, Christophe. Inteligência prática e sabedoria prática. In: LANCMAN, Selma; SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.


Tamira Mercês


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Discussão do Filme Fora de Controle

O filme intitulado Fora de Controle do diretor Roger Michell traz uma proposta interessante ao abordar situações que fazem com que as pessoas realizem determinadas ações, buscando saber lidar com os aspectos atípicos apresentados. A partir da história exibida no filme, é possível perceber que no contexto organizacional, por exemplo, são identificadas algumas estratégias que, em algum nível, contribuem para que o espaço continue em funcionamento.

Um ponto a ser destacado ao discutir o filme Fora de Controle refere-se ao fato de que as relações e acontecimentos que ocorrem dentro e fora do ambiente organizacional encontram-se estreitamente ligados. Nesse sentido, o personagem Gavin Benek demonstra que tanto os conflitos vivenciados no trabalho quanto a resolução dos problemas envolvem as esferas pessoal e profissional da vida do sujeito.

Considerando o aspecto suscitado acima, pode-se dizer que Benek começou a vivenciar situações incompatíveis com possíveis planejamentos a partir do momento que o seu carro colidiu com o de Gibson. A necessidade de cumprir uma função do trabalho ao se deparar com um acontecimento não esperado, frequentemente, constitui-se como uma tarefa de difícil solução para os trabalhadores, sendo que este aspecto pode ser observado nas atitudes e falas do personagem Benek.

Conforme foi ilustrado no filme, a cultura organizacional e os trabalhadores, ao desenvolverem suas atividades, apresentam algumas características que compõem o que a Psicopatologia do Trabalho denomina como saúde mental do trabalhador. Assim, a existência de um bode expiatório e de outros papéis no grupo é importante para que os membros visualizem apoio entre si. Os segredos e inteligência prática também são importantes nos processos organizacionais. Aqui, ainda vale ressaltar a influência das relações que ocorrem entre aqueles que dirigem e são dirigidos num espaço organizacional, além da própria formação de pequenos grupos ou pares entre as pessoas que trabalham.

A saúde mental do trabalhador chama atenção para a questão de que o trabalho prescrito, na maioria das vezes, é inconcebível na sua totalidade. Uma passagem da história contada em Fora de Controle mostra que até mesmo as expectativas de uma pessoa que está se candidatando a uma vaga de emprego diferem da realidade vivenciada por aquele local.

Por fim, existe a possibilidade de que os trabalhadores e a empresa, por exemplo, atinjam um estágio no qual a utilização dos mecanismos de defesa não seja mais suficiente para manter a condução das atividades propostas. Com isso, pode-se chegar a uma reelaboração dos procedimentos que devem ser seguidos na e pela organização. Essa fase pode ser vista no filme.

Em conclusão, é possível afirmar que a saúde mental dos trabalhadores é uma resposta a experiências que não podem ser facilmente controladas. Discutir esse aspecto que é essencial no trabalho pode proporcionar uma série de benefícios tanto para o trabalhador quanto para o local onde ele trabalha.

Referência


MICHELL, Roger. Fora de Controle. Título Original: Changing Lanes. EUA, 2002. Disponível em http://www.filmesdanet.net/2012/04/fora-de-controle-dublado-filmes-gratis.html. 99 min. Colorido. Sonoro. Dublado. Acesso em 03/07/2013.

Tamira  Mercês.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Síntese do texto " Relações de transferência na empresa: confusões e atritos no processo decisório "


A avaliação sobre os processos e relações que ocorrem no interior de uma organização pode ser feita sob o ponto de vista da transferência, sendo que este se encontra intensamente presente no campo psicanalítico. Freud, por exemplo, percebeu que a transferência exerce importantes influências no método clinico e este fato pode se estender para as relações cotidianas.

Abordar as relações organizacionais na perspectiva da transferência constitui um fator de grande importância no que se refere ao funcionamento geral do espaço de trabalho. A partir disso, melhores compreensões acerca do uso do poder e tomada de decisões podem ser alcançadas com mais facilidade, sendo que torna-se possível também a promoção de mudanças.

Para entender de que modo a transferência influencia os relacionamentos e a condução de atividades no ambiente de trabalho, é necessário entender o termo sugerido. O conceito de transferência refere-se à projeção que um indivíduo faz em relação à determinada pessoa se baseando na história afetiva que foi construída no seu passado ou mais especificamente nas relações que foram estabelecidas com seus familiares e outras pessoas com as quais manteve contatos duradouros durante a infância. 

Considerando a definição de transferência, o ato de observar as interações entre os integrantes de uma organização é uma oportunidade de constatar a existência do fenômeno que está sendo evidenciado nessa discussão.

Freud propôs dois tipos de transferência, a saber, positiva e negativa. Com relação às organizações sugere-se a existência de três grandes estruturas de transferência: transferência idealizada, transferência narcisista e transferência persecutória.

A transferência idealizada é relacionada a uma fase precoce do desenvolvimento psíquico. A pessoa apóia-se na imagem do outro como uma fonte inesgotável de satisfação e felicidade. Logo, todos os pontos positivos possíveis podem ser identificados na pessoa idealizada.

Contudo, esse tipo de transferência compromete a dinâmica da empresa, pois a pessoa (ou grupo) que idealiza torna-se totalmente dependente da pessoa que é idealizada, perdendo sua autonomia para a realização de atividades. A perda de capacidade de julgamento da pessoa que idealiza - geralmente os subordinados ocupam essa posição – aplica-se à variadas situações inclusive à própria figura idealizada. Um aspecto importante desse tipo de transferência é que o estímulo e a adesão às mudanças ocorrem mais facilmente. Mas, se não é a pessoa idealizada que propõe essas mudanças, a resistência se sobrepõe.

Conforme já foi mencionado, as relações nos espaços organizacionais também são marcadas pela transferência narcisista. Neste caso, o sujeito constrói seus relacionamentos, apoiado numa admiração que mantém por si mesmo. Essa afirmação orienta o pensamento de que de que a transferência narcisista possui a tendência de estar ligada a diálogos e aproximações muito frágeis. Isso se deve ao fato de que o indivíduo que desenvolve a transferência narcisista não está interessado por aquilo que acontece ao seu redor.

Em alguns casos a transferência narcisista pode ser o complemento da transferência idealizada, ou seja, o indivíduo tem a necessidade constante de ser aplaudido e suas ações são compatíveis com o seu desejo de receber atenção. Quando existe uma aproximação em relação à pessoa que tem a transferência narcisista, os contatos estabelecidos, geralmente, têm como finalidade a busca por recompensas e benefícios. De certa maneira o indivíduo tem sua admiração reforçada. Nos momentos em que as pessoas não o reconhecem seu humor se altera. Sem dúvidas, estes fatores podem prejudicar o clima organizacional.

Por fim, as organizações têm como um dos destaques a transferência persecutória. Esse tipo de transferência está vinculada aos mecanismos de defesa que são usados pelos trabalhadores.A transferência propriamente dita consiste na divisão do mundo em duas partes:uma onde tudo é bom,existindo também o lado mal.

O sentimento de perseguição torna-se o ponto de partida para o desencadeamento da hostilidade em relação ao outro que supostamente realiza a perseguição. Interligada a esta manifestação da transferência persecutória, um fator que pode se tornar bastante nítido é o masoquismo moral, sendo que o individuo vê uma chance de reparar os seus erros, enquanto pessoa que hostiliza os companheiros. Essa transferência ainda pode tomar a forma de inveja. Então, os processos decisórios mais uma vez se tornam difíceis.

Diante dessas informações, é possível falar que muitas situações vivenciadas nas organizações, na verdade, são reflexos das histórias pessoais de cada membro, seja ele um dirigente ou dirigido. As transferências idealizada, narcisista e persecutória são atribuídas, respectivamente, ao reencontro de uma felicidade em união com o outro, à busca pelos cuidados e atenção que não foram recebidos na infância, e à rivalidade vivenciada, comumente, com os irmãos. Com isso, é preciso estar consciente sobre a possibilidade do ressurgimento das transferências, visando um bom gerenciamento dessa questão.

Referência:
VRIES, Manfred F. R. Kets de; MILLER, Danny. Relações de transferência na empresa: confusões e atritos no processo decisório. In: CHANLAT, Jean-François. O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1993.

Tamira Mercês

Síntese do texto "Trabalho e saúde mental: da pesquisa à ação"


A abordagem da relação existente entre trabalho e saúde mental demanda alguns esclarecimentos. O primeiro ponto a ser destacado é que a saúde mental no trabalho refere-se aos comportamentos que permitem que o trabalhador, apesar das pressões, continue exercendo suas funções. Com isso percebe-se que é necessária uma revisão dos modelos que se propõem a investigar a relação citada.

Ao falar em saúde mental e trabalho, comumente, surgem idéias ligadas ao fator causal do ambiente de trabalho e ainda considera-se que o fenômeno da doença está ligado a cada trabalhador individualmente. Contudo, Dejours (1994) sugere a idéia de que o nível patológico deve ser visto como uma predisposição do sujeito e que o desencadeamento de uma doença ou não se apóia nas relações coletivas de trabalho. Mais especificamente, esse autor diz que a saúde mental no trabalho deve ser entendida como os processos que possibilitam a manutenção do trabalhador na realização de suas funções.

Assim, é possível falar que a abordagem saúde mental-trabalho será mais facilitada e se tornará mais aperfeiçoada a partir da ruptura com modelos médicos e psiquiátricos clássicos. Também se aconselha adotar a prática da não redução do trabalho às condições físicas, químicas e biológicas, e considerar a dimensão organizacional. De forma sintética, essas ações conduzem à necessidade de visualizar a relação social no trabalho.

Como resultado dessas demandas surge a psicopatologia do trabalho. Esse campo de investigação apresenta um método clínico e teórico considerando a articulação das atuações do sujeito e aquilo que é produzido pelo ambiente coletivo do trabalho. Aqui, é preciso ter cuidado também com o determinismo reducionista socioeconômico.

Para avaliar o relacionamento entre saúde mental e trabalho, Dejours (1994) toma como ponto de partida a realização da pesquisa sobre o individualismo triunfante que pode ser encontrado em algumas organizações.
O autor citado apresenta, então, uma pesquisa que tem como objetivos demonstrar a existência do individualismo como resultado do sofrimento psíquico e, além disso, mostrar que a psicopatologia do trabalho pode promover um remanejamento desse quadro, possibilitando o estudo e a prática do trabalho e saúde mental.

A pesquisa se desenvolveu no contexto de um serviço de manutenção de uma indústria de processo (indústria nuclear). Nesse local eram observados riscos para o pessoal, as instalações e meio ambiente. Mas, os fatores que mais vinham causando preocupação eram o desengajamento dos operadores, degradação do clima psicológico, comportamentos individuais enigmáticos e preocupantes.
Devido ao fato de haver um distanciamento entre trabalho prescrito e trabalho real, os operários começaram a desenvolver a prática do quebra-galhos.Ao conceber essa prática,muitos desentendimentos e conflitos se originaram.

Durante a pesquisa foram identificados processos defensivos tanto por parte dos operários quanto por parte dos executivos. Dentre os executivos, esses processos se manifestavam por meio das táticas do segredo e do silêncio generalizado. Os executivos intermediários, por sua vez, se baseavam na Psicologia Espontânea dos Executivos, que atribui como causa daquilo que não foi compreendido a imaturidade e falta de seriedade ou responsabilidade dos trabalhadores.

Vale assinalar que as ideologias defensivas estão presentes em vários espaços organizacionais. Elas constituem uma expressão do individualismo triunfante. Seguindo o pensamento de Dejours, pode-se afirmar que esses mecanismos de defesa estão entre o sofrimento que impulsiona à ação e o sofrimento patogênico.

Aproximando-se de uma conclusão, define-se que a atuação da psicopatologia do trabalho apenas tem início com a demanda dos trabalhadores. Nesse sentido, o individualismo pode ser o caminho para a reabertura do debate acerca da organização do trabalho. Isso ocorre a partir do momento em que o individualismo começa a comprometer o funcionamento da organização.

Referência:
DEJOURS, Christophe. Trabalho e saúde mental (cap.3). In____Psicodinâmica do trabalho,p.45-65.São Paulo:Atlas,1994.

Tamira Mercês