O
ato de trabalhar, geralmente, proporciona benefícios tanto para os
trabalhadores quanto para a sociedade como um todo. A pessoa que trabalha tem a
oportunidade de visualizar o ambiente de trabalho e a função que desempenha
como fontes de prazer. No entanto, existe também a possibilidade de existir
sofrimento no trabalho.
Nessa
discussão também pode ser tratada a questão dos desafios encontrados pelos
psicólogos organizacionais nas instituições em que trabalham. Tais desafios, segundo
estudos, não são compatíveis com as orientações fornecidas no processo de formação.
Essa informação é constatada, por exemplo,quando percebe-se que a Psicologia
enquanto ciência e profissão ainda encontra-se pouco voltada para as
organizações como uma possível área de atuação.
Ao
abordar a questão do trabalho torna-se necessário estar atento para as
situações a partir das quais o sofrimento pode surgir. Nesse sentido, o
sofrimento do trabalhador tem origens na sua própria história psíquica.
Para
estudar a relação entre trabalho e dinâmica psíquica a disciplina
Psicopatologia do Trabalho tem se preocupado em compreender qual o mecanismo
que permite que o sujeito mantenha-se na normalidade mesmo quando se depara com
os constrangimentos da situação de trabalho. O sofrimento, então, parece mediar
essa relação.
Nas
organizações podem ser observados alguns tipos de defesa visando à preservação
do bom estado da saúde mental e também do trabalho. Dentre essas defesas estão
as defesas coletivas e ideologias defensivas de profissão que, conforme as
denominações sugerem necessitam da participação de grupos de trabalhadores.Há
ainda a chamada repressão pulsional que ocorre sob o modo organizacional da
administração científica.Nesse caso,homens e mulheres que trabalham colocam em
prática,até mesmo no ambiente exterior à organização,a separação do corpo e do
pensamento.
Como
já foi dito neste escrito, o sofrimento do trabalhador está associado ao seu
processo de constituição como sujeito. Segundo Dejours (1993), a psicanálise
possui contribuições importantes sobre este aspecto de organização mental.
Assim,
a teoria psicanalítica defende a idéia que a criança começa a sofrer identificando
estados de angustia em seus pais ou naqueles que cuidam dela. Ao longo do tempo
o ser em construção tenta elaborar a questão da angústia, do sofrimento e das
preocupações próprios e daqueles que o rodeiam, mas esses fatos serão como um
enigma para o qual sempre se buscará uma explicação sendo este processo
definido como epistemofilia.
Ainda
se apoiando na teoria psicanálise, diz-se que a criança utiliza o brincar ou
mais especificamente o jogo para expressar seu sofrimento. A brincadeira surge
como uma espécie de teatro em que as cenas ocorrem junto com os pais. Na vida
adulta que, consequentemente, é acompanhada pela inserção no mundo do trabalho,
o sofrimento é desencadeado e tenta ser compreendido juntamente com os
participantes da empresa, por exemplo.
É
importante dizer que o sofrimento e a tentativa de entendê-lo, em alguns casos
conduzem a registros de sucesso no trabalho. Nessa ocasião ele é visto como um
desafio a ser vencido.
Considerando
o modelo taylorista do trabalho, o sofrimento patogênico pode ser associado à
divisão do trabalho nas perspectivas de concepção e execução. O sujeito faz um
esforço para considerar somente as regras de execução. Esse esforço causa
desconforto podendo gerar não apenas doença mental, mas também problemas de
ordem física. O sofrimento patogênico, sem dúvidas, reflete de forma negativa
sobre a produção.
O
quadro de sofrimento patogênico provavelmente se estende às esferas exteriores
às organizações. Com isso, é importante estar atento para efeitos sociais em
dimensão psicopatológica que o trabalho pode oferecer. Vale ressaltar ainda que
o trabalho de caráter patogênico pode ser prevenido ou eliminado através de
ações administrativas ou por iniciativa dos próprios trabalhadores que visem
espaços de discussão sobre o que acontece diariamente na jornada de trabalho.
Em
espaços organizacionais também é importante a presença do psicólogo não apenas
para a realização das atividades de seleção e recrutamento. Assim, surgem
análises que permitem identificar o que é necessário para que exista um bom
relacionamento entre formação e atuação do profissional psicólogo. Um psicólogo
bem preparado numa organização pode conduzir a resultados ainda mais positivos
no contexto de sofrimento no trabalho.
Referências
ZANELLI,
José Carlos. Situação da formação e das atividades de trabalho (cap.1). In____O psicólogo nas organizações de trabalho,p.11-43.Artmed Editora,2002.
DEJOURS,
Christophe. Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações.In
:CHANLAT,Jean-François.O indivíduo na
organização:dimensões esquecidas.São Paulo:Atlas,1993.
Tamira Mercês.