quarta-feira, 19 de junho de 2013

Síntese do texto "Trabalho e saúde mental: da pesquisa à ação"


A abordagem da relação existente entre trabalho e saúde mental demanda alguns esclarecimentos. O primeiro ponto a ser destacado é que a saúde mental no trabalho refere-se aos comportamentos que permitem que o trabalhador, apesar das pressões, continue exercendo suas funções. Com isso percebe-se que é necessária uma revisão dos modelos que se propõem a investigar a relação citada.

Ao falar em saúde mental e trabalho, comumente, surgem idéias ligadas ao fator causal do ambiente de trabalho e ainda considera-se que o fenômeno da doença está ligado a cada trabalhador individualmente. Contudo, Dejours (1994) sugere a idéia de que o nível patológico deve ser visto como uma predisposição do sujeito e que o desencadeamento de uma doença ou não se apóia nas relações coletivas de trabalho. Mais especificamente, esse autor diz que a saúde mental no trabalho deve ser entendida como os processos que possibilitam a manutenção do trabalhador na realização de suas funções.

Assim, é possível falar que a abordagem saúde mental-trabalho será mais facilitada e se tornará mais aperfeiçoada a partir da ruptura com modelos médicos e psiquiátricos clássicos. Também se aconselha adotar a prática da não redução do trabalho às condições físicas, químicas e biológicas, e considerar a dimensão organizacional. De forma sintética, essas ações conduzem à necessidade de visualizar a relação social no trabalho.

Como resultado dessas demandas surge a psicopatologia do trabalho. Esse campo de investigação apresenta um método clínico e teórico considerando a articulação das atuações do sujeito e aquilo que é produzido pelo ambiente coletivo do trabalho. Aqui, é preciso ter cuidado também com o determinismo reducionista socioeconômico.

Para avaliar o relacionamento entre saúde mental e trabalho, Dejours (1994) toma como ponto de partida a realização da pesquisa sobre o individualismo triunfante que pode ser encontrado em algumas organizações.
O autor citado apresenta, então, uma pesquisa que tem como objetivos demonstrar a existência do individualismo como resultado do sofrimento psíquico e, além disso, mostrar que a psicopatologia do trabalho pode promover um remanejamento desse quadro, possibilitando o estudo e a prática do trabalho e saúde mental.

A pesquisa se desenvolveu no contexto de um serviço de manutenção de uma indústria de processo (indústria nuclear). Nesse local eram observados riscos para o pessoal, as instalações e meio ambiente. Mas, os fatores que mais vinham causando preocupação eram o desengajamento dos operadores, degradação do clima psicológico, comportamentos individuais enigmáticos e preocupantes.
Devido ao fato de haver um distanciamento entre trabalho prescrito e trabalho real, os operários começaram a desenvolver a prática do quebra-galhos.Ao conceber essa prática,muitos desentendimentos e conflitos se originaram.

Durante a pesquisa foram identificados processos defensivos tanto por parte dos operários quanto por parte dos executivos. Dentre os executivos, esses processos se manifestavam por meio das táticas do segredo e do silêncio generalizado. Os executivos intermediários, por sua vez, se baseavam na Psicologia Espontânea dos Executivos, que atribui como causa daquilo que não foi compreendido a imaturidade e falta de seriedade ou responsabilidade dos trabalhadores.

Vale assinalar que as ideologias defensivas estão presentes em vários espaços organizacionais. Elas constituem uma expressão do individualismo triunfante. Seguindo o pensamento de Dejours, pode-se afirmar que esses mecanismos de defesa estão entre o sofrimento que impulsiona à ação e o sofrimento patogênico.

Aproximando-se de uma conclusão, define-se que a atuação da psicopatologia do trabalho apenas tem início com a demanda dos trabalhadores. Nesse sentido, o individualismo pode ser o caminho para a reabertura do debate acerca da organização do trabalho. Isso ocorre a partir do momento em que o individualismo começa a comprometer o funcionamento da organização.

Referência:
DEJOURS, Christophe. Trabalho e saúde mental (cap.3). In____Psicodinâmica do trabalho,p.45-65.São Paulo:Atlas,1994.

Tamira Mercês

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