terça-feira, 9 de julho de 2013

Síntese do texto “As relações domésticas: entre amor e dominação”

A psicodinâmica do trabalho e, sobretudo, as ideias apresentadas por Christophe Dejours oferecem novas e mais adequadas visões acerca de questões que estão relacionadas ao trabalho. Um dos argumentos defendido pelo referido autor se associa à construção da identidade dos sujeitos estando em interação com diferentes situações, inclusive as relações de trabalho.

A abordagem sobre a identidade como uma dimensão intimamente ligada à questão do trabalho é explicada por Dejours (2004) a partir dos acontecimentos que se dão dentro e fora do ambiente de trabalho. Mais especificamente, diz-se que abordagem citada pode ser mais facilmente avaliada através do trabalho de reprodução - trabalho doméstico - e do amor, na medida em que estes podem ser observados na esfera privada.

Antes de apresentar os fatores que, geralmente, estão associados ao trabalho de reprodução, tornam-se necessárias as conceituações e considerações acerca da identidade e do amor. Com isso, a identidade é vista como um sentimento de unidade da personalidade e que está em constante movimento durante o curso de vida do sujeito. O amor, por sua vez, é um sentimento ao qual se faz referência mediante a reprodução das relações de dominação no espaço privado.

Uma idéia mais profunda acerca da relação existente entre identidade, trabalho de reprodução e amor, surge exatamente de questões associadas ao último termo citado. Conforme aponta Dejours, o amor é constituído pelos componentes identitário, sexual e vínculo. O elemento identitário se refere à possibilidade das pessoas se reconhecerem a partir do outro através do sentimento discutido.O amor também implica uma economia erótica,mas também abrange o vínculo.

O vínculo, que é intensamente observado na constituição das relações amorosas, é utilizado pelos seres humanos na mobilização dos recursos que lhes são disponíveis, buscando ajustá-los de acordo com as suas expectativas. No entanto, o vínculo também é apontado como um possível fator desencadeante da alienação entre os parceiros. Assim, esse importante elemento participa não apenas da estrutura das relações de amor, mas das próprias relações ou realizações de tarefa que envolvem o contexto privado.

No trabalho de reprodução – entendido aqui como o trabalho doméstico – o vínculo pode influenciar o registro das relações de dominação e submissão num ambiente familiar. As tarefas domésticas e todo trabalho fica sob a responsabilidade daquele que se submete, e sob o ponto de vista vincular aquele que domina e o que se submete assumem muito bem seus papéis.

O termo trabalho de reprodução representa as multideterminações do quadro de trabalho que é desenvolvido em espaços domésticos. Pode-se falar, então, que as relações de dominação/submissão são reflexos da negação ou reconhecimento da diferença anatômica entre os sexos, do trabalho produtivo e do próprio trabalho reprodutivo. Nesses três momentos, comumente, homens e mulheres apresentam tendências distintas com relação a aceitar ou não determinada realidade. É importante ressaltar que esses três processos estão situados em épocas diferentes da vida de uma pessoa. O primeiro encontra-se ligado ao desenvolvimento infantil, enquanto os últimos podem ser vistos na vida adulta, sendo mais recentes.

De acordo com os aspectos apresentados acima, o sujeito que percebe e reconhece os elementos da realidade dada assume o papel da submissão e aquele que nega domina. A justificativa para essa configuração, provavelmente, relaciona-se com o fato de que o reconhecimento dá as bases para saber lidar com um possível conflito, enquanto a negação não o permite.

Dessa maneira, é possível falar que o trabalho produtivo, ou seja, aquele que é desenvolvido num espaço organizacional e o desenvolvimento infantil exercem influências nas relações familiares, abrangendo a própria noção de trabalho que se estabelece nessa rede social.

Referência
DEJOURS, Christophe. As relações domésticas: entre amor e dominação. In: LANCMAN, Selma; SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.

Tamira Mercês


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