domingo, 7 de julho de 2013

Síntese do texto Inteligência prática e sabedoria prática

As discussões acerca do trabalho abrangem a identificação, mas não o conhecimento profundo das dimensões que caracterizam essa atividade humana. No exercício das funções o trabalho real, frequentemente não corresponde ao trabalho prescrito e, a partir daí, é possível perceber e avaliar a existência e utilização da inteligência prática que, por sua vez, é uma das dimensões do trabalho.

Em geral, as formas utilizadas pelos trabalhadores para a condução das suas atividades nos espaços de trabalho são mal compreendidas. Nesse sentido, o fato dos trabalhadores não seguirem as indicações do trabalho prescrito são explicadas através de atribuições negativas em relação a esses indivíduos. Contudo, algumas pesquisas demonstram e, consequentemente, permitem afirmar que o trabalho real possui características essenciais para a manutenção das condições de trabalho. Assim, surge a necessidade de abordar a inteligência, sabedoria prática no trabalho.

As atividades de desempenho nos ambientes de trabalho em relacionamento com a inteligência prática, primeiramente, são visualizadas com base no aspecto corporal. Por meio das sensações e percepções, o corpo atua como mediador das diferentes situações vivenciadas no trabalho. Devido a esse fato, em alguns casos, a dimensão corpórea da inteligência prática se apresenta como um fator fundamental para a solução de determinados problemas e, em outras circunstâncias funciona como ponto de partida para a utilização do trabalho prescrito.

A avaliação sobre a inteligência prática também sugere considerar a presença e necessidade da astucia nos procedimentos que visam alcançar os objetivos propostos pela organização do trabalho. Com o auxílio do corpo e da astucia, a inteligência prática, ainda pode ser reconhecida como aquela que é capaz de estar presente em trabalhos teóricos e manuais, contribuindo com as demonstrações de criatividade observadas, por exemplo, nas empresas. Finalmente, destaca-se que a inteligência astuciosa encontra-se em ampla difusão entre as pessoas.

Dejours (2004) assinala que as manifestações da inteligência prática se originam dos contextos sincrônico de diacrônico, nos quais o sujeito está situado. O contexto sincrônico se refere à organização e relações sociais no trabalho presente, enquanto o contexto diacrônico trata da historia singular do trabalhador em interação com o trabalho presente.

Ao considerar a origem da inteligência prática em relação à história singular do sujeito, a psicanálise propõe que é a passagem pela epistemofilia e jogos infantis que fornecem as bases para o desencadeamento da inteligência que está sendo discutida aqui. De acordo com essa afirmação, há uma ligação entre inteligência prática e o sofrimento que surgiu na infância a partir da angústia dos próprios pais do sujeito que, no presente, participa do que é denominado como teatro do trabalho.

Diante das questões suscitadas acima, pode-se dizer que a inteligência prática torna-se necessária em razão da impossibilidade dos trabalhadores seguirem as regras do trabalho prescrito e também porque o espaço do trabalho constitui-se como uma oportunidade de cada sujeito visualizar um sentido na atividade que realiza. No entanto, a inteligência astuciosa pode não se manifestar pelo fato da pessoa que trabalha considerar os objetivos fixados pela organização insatisfatórios e ainda perceber que não existem contribuições para a sua situação subjetiva.

Frequentemente, a administração envolvida nos processos organizacionais se recusa a reconhecer o relativo distanciamento entre aquilo que é prescrito e real na realização das atividades, justificando ser esta uma forma de buscar proteção e segurança para toda a estrutura da organização.

Dessa forma, é possível falar que a negação da inteligência prática, em muitos ambientes, pode estar deixando várias questões e atributos relevantes implícitos. Conforme já foi apontado, esse tipo de inteligência é uma dimensão do trabalho e, neste caso, é preciso dedicar atenção a ela.

Referencia
DEJOURS, Christophe. Inteligência prática e sabedoria prática. In: LANCMAN, Selma; SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.


Tamira Mercês


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